Como é feito o diagnóstico do autismo e quais são os profissionais envolvidos?

Profissionais envolvido no diagnóstico do autismo

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a forma como a pessoa se comunica, interage e se comporta. O autismo é chamado de espectro porque apresenta uma grande variedade de sintomas, que podem variar de leves a severos, e de características, que podem ser diferentes em cada indivíduo.

O diagnóstico do autismo é um processo complexo e multidisciplinar, que envolve a observação clínica, a avaliação psicológica, a aplicação de instrumentos padronizados e a coleta de informações com a família e outros profissionais que acompanham a pessoa. O diagnóstico precoce é fundamental para que se possa iniciar o tratamento adequado e proporcionar uma melhor qualidade de vida para a pessoa com autismo e seus familiares.

Mas como é feito o diagnóstico do autismo e quais são os profissionais envolvidos? Neste artigo, vamos explicar os critérios diagnósticos, as etapas do processo e as especialidades que podem contribuir para a identificação e o acompanhamento do transtorno do espectro autista (TEA).

Critérios diagnósticos do autismo

O manual mais utilizado internacionalmente para o diagnóstico dos transtornos mentais é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), que está na sua quinta edição (DSM-5). Segundo o DSM-5, o autismo é caracterizado por:

  • Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, manifestados por:
    • Déficits na reciprocidade socioemocional, como dificuldade para compartilhar emoções, interesses e afetos, e para iniciar ou responder a interações sociais.
    • Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para a interação social, como dificuldade para usar e compreender gestos, expressões faciais e contato visual.
    • Déficits no desenvolvimento, manutenção e compreensão de relacionamentos, como dificuldade para se ajustar a diferentes contextos sociais, para participar de brincadeiras imaginativas e para fazer amigos.
  • Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, manifestados por pelo menos dois dos seguintes itens:
    • Movimentos, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos, como balançar o corpo, alinhar brinquedos ou repetir palavras ou frases.
    • Insistência em seguir rotinas, padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal, ou resistência a mudanças, como ficar angustiado com pequenas alterações na rotina ou seguir regras rígidas.
    • Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco, como fascinação por objetos giratórios, números ou determinados assuntos.
    • Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente, como reagir de forma excessiva ou reduzida a sons, luzes, texturas ou temperaturas, ou explorar objetos de forma incomum.

Além desses critérios, o DSM-5 também considera:

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  • Que os sintomas devem estar presentes desde o início do desenvolvimento, mas podem não se manifestar totalmente até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas, ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida.
  • Que os sintomas devem causar prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida atual.
  • Que esses distúrbios não devem ser mais bem explicados por deficiência intelectual ou atraso global do desenvolvimento. A deficiência intelectual e o autismo frequentemente coexistem; para se fazer diagnósticos de comorbidade de autismo e deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral de desenvolvimento.

O DSM-5 também classifica o autismo em três níveis de gravidade, de acordo com o grau de apoio necessário para a pessoa. O nível 1 é o mais leve e requer apoio, o nível 2 é moderado e requer apoio substancial, e o nível 3 é o mais severo e requer apoio muito substancial.

Etapas do diagnóstico do autismo

O diagnóstico do autismo pode ser feito em qualquer idade, mas geralmente é realizado na infância, entre os 18 e os 36 meses de vida. O diagnóstico precoce é importante para que se possa iniciar o tratamento o quanto antes e favorecer o desenvolvimento da pessoa com autismo.

O processo de diagnóstico do autismo envolve as seguintes etapas:

  • Triagem: é a primeira etapa, que consiste em aplicar instrumentos breves e padronizados para identificar sinais de risco para o autismo. A triagem pode ser feita por pediatras, enfermeiros, educadores ou outros profissionais que tenham contato com a criança. Um dos instrumentos mais usados para a triagem é a Escala de Rastreamento para Autismo em Crianças Pequenas (M-CHAT), que é um questionário com 23 perguntas que deve ser respondido pelos pais ou cuidadores. A triagem não é um diagnóstico, mas uma forma de detectar possíveis casos que precisam de uma avaliação mais aprofundada.
  • Avaliação: é a segunda etapa, que consiste em realizar uma avaliação clínica e psicológica com a pessoa suspeita de ter autismo e com seus familiares. A avaliação envolve a observação do comportamento, a aplicação de instrumentos específicos para o autismo, a realização de testes de desenvolvimento, inteligência, linguagem e habilidades sociais, e a coleta de informações sobre o histórico de vida, os sintomas, as dificuldades e as potencialidades da pessoa. A avaliação deve ser feita por uma equipe multidisciplinar, que inclui psicólogo, psiquiatra, neurologista, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. A avaliação tem como objetivo confirmar ou descartar o diagnóstico de autismo, determinar o nível de gravidade, identificar possíveis comorbidades e estabelecer as necessidades de intervenção e de apoio para a pessoa e sua família.
  • Diagnóstico: é a terceira etapa, que consiste em comunicar o resultado da avaliação para a pessoa com autismo e seus familiares, e fornecer orientações sobre o tratamento e os recursos disponíveis. O diagnóstico deve ser feito por um médico, que pode ser um psiquiatra ou um neurologista, com base nos critérios do DSM-5 e nas informações coletadas pela equipe multidisciplinar. O diagnóstico deve ser claro, objetivo, empático e respeitoso, e deve levar em conta as particularidades de cada pessoa com autismo. O diagnóstico deve ser visto como um ponto de partida para a busca de soluções e não como um rótulo ou uma sentença.

Profissionais envolvidos no diagnóstico do autismo

O diagnóstico do autismo é um processo que requer a participação de diversos profissionais, que podem contribuir com suas diferentes áreas de conhecimento e de atuação. Os principais profissionais envolvidos no diagnóstico do autismo são:

  • Psicólogo: é o profissional que estuda o comportamento e os processos mentais das pessoas. O psicólogo pode realizar a avaliação psicológica da pessoa com autismo, aplicando instrumentos específicos para o transtorno, como a Entrevista Diagnóstica do Autismo Revisada (ADI-R) e a Escala de Observação do Autismo na Infância Revisada (ADOS-2). O psicólogo também pode realizar testes de desenvolvimento, inteligência, linguagem e habilidades sociais, e coletar informações com a família e outros profissionais que acompanham a pessoa. O psicólogo pode contribuir para o diagnóstico diferencial, identificando possíveis comorbidades, como ansiedade, depressão, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), entre outros. Além disso, o psicólogo pode oferecer apoio emocional e orientação para a pessoa com autismo e seus familiares, e participar do planejamento e da execução do tratamento, que pode incluir terapia cognitivo-comportamental, terapia de grupo, terapia familiar, entre outras modalidades.
  • Psiquiatra: é o médico que se especializa no diagnóstico, tratamento e prevenção dos transtornos mentais. O psiquiatra pode realizar a avaliação clínica da pessoa com autismo, observando os sintomas, o funcionamento e o histórico de vida. O psiquiatra é o responsável por confirmar ou descartar o diagnóstico de autismo, com base nos critérios do DSM-5 e nas informações coletadas pela equipe multidisciplinar. O psiquiatra também pode prescrever medicamentos para tratar possíveis comorbidades, como ansiedade, depressão, agressividade, irritabilidade, insônia, entre outras. O psiquiatra pode acompanhar a evolução da pessoa com autismo, ajustando o tratamento conforme a necessidade, e orientar a família sobre os cuidados e os recursos disponíveis.
  • Neurologista: é o médico que se dedica ao estudo, diagnóstico e tratamento das doenças que afetam o sistema nervoso. O neurologista pode realizar a avaliação neurológica da pessoa com autismo, solicitando exames complementares, como eletroencefalograma, ressonância magnética, tomografia computadorizada, entre outros, para investigar possíveis alterações cerebrais ou genéticas associadas ao transtorno. O neurologista pode contribuir para o diagnóstico diferencial, excluindo outras condições neurológicas que podem se assemelhar ao autismo, como epilepsia, síndrome de Rett, síndrome de Asperger, síndrome de Angelman, entre outras. O neurologista também pode prescrever medicamentos para tratar possíveis comorbidades, como epilepsia, enxaqueca, distúrbios do movimento, entre outras. O neurologista pode acompanhar a evolução da pessoa com autismo, monitorando os efeitos dos medicamentos e dos exames, e orientar a família sobre os cuidados e os recursos disponíveis.
  • Fonoaudiólogo: é o profissional que se ocupa da prevenção, avaliação, diagnóstico e tratamento dos distúrbios da comunicação humana. O fonoaudiólogo pode realizar a avaliação fonoaudiológica da pessoa com autismo, aplicando testes de linguagem oral e escrita, de audição, de voz, de articulação, de fluência, de deglutição, entre outros, para verificar o nível de desenvolvimento e as dificuldades de comunicação da pessoa. O fonoaudiólogo pode contribuir para o diagnóstico do autismo, identificando possíveis atrasos ou desvios na aquisição e no uso da linguagem, que são um dos principais sinais do transtorno. Além disso, o fonoaudiólogo pode participar do tratamento da pessoa com autismo, oferecendo terapia fonoaudiológica, que visa estimular e melhorar as habilidades de comunicação, como compreensão, expressão, pragmática, leitura, escrita, entre outras.
  • Terapeuta ocupacional: é o profissional que utiliza atividades específicas como recurso terapêutico para prevenir e tratar dificuldades físicas, sensoriais, cognitivas, sociais e emocionais que interferem na ocupação e na participação da pessoa em seu cotidiano. O terapeuta ocupacional pode realizar a avaliação terapêutica ocupacional da pessoa com autismo, observando o desempenho e a funcionalidade da pessoa nas atividades de vida diária, de vida prática, de lazer, de escola, de trabalho, entre outras, e analisando os fatores ambientais e pessoais que influenciam na ocupação e na participação da pessoa. O terapeuta ocupacional pode contribuir para o diagnóstico do autismo, identificando possíveis déficits ou excessos na integração sensorial, na coordenação motora, na atenção, na memória, na organização, na flexibilidade, na iniciativa, na autonomia, entre outras habilidades necessárias para a realização das atividades cotidianas. Além disso, o terapeuta ocupacional pode participar do tratamento da pessoa com autismo, oferecendo terapia ocupacional, que visa promover e facilitar o desempenho e a funcionalidade da pessoa nas atividades de seu interesse e de sua rotina, adaptando ou modificando o ambiente e os recursos, e estimulando o desenvolvimento de habilidades físicas, sensoriais, cognitivas, sociais e emocionais.

Conclusão

O diagnóstico do autismo é um processo complexo e multidisciplinar, que requer a participação de diversos profissionais, que podem contribuir com suas diferentes áreas de conhecimento e de atuação. O diagnóstico do autismo envolve a triagem, a avaliação e a comunicação do resultado, seguindo os critérios do DSM-5. O diagnóstico precoce é fundamental para que se possa iniciar o tratamento adequado e proporcionar uma melhor qualidade de vida para a pessoa com autismo e seus familiares. O diagnóstico do autismo não é um fim, mas um meio para a busca de soluções e de possibilidades para a pessoa com autismo.

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